terça-feira, 8 de junho de 2010

O Bardo - Capítulo 7


Capítulo 7 - O Último Dragão.

James estava sentado no peitoril da janela de seu quarto, localizado no salão mais alto da torre mais baixa do templo sobre a montanha de Heller. O aposento era grande e, embora com decoração simples, não deixava de ter seus luxos. Era uma sala circular, com uma cama no centro, de madeira e colchão de lã, um carpete macio cobrindo toda a extensão do piso e uma pequena fonte de pedra, na parede oposta à da janela, de onde a água brotava e escoava, por um sistema de drenagem sofisticado, de forma que a fonte, do tamanho de uma tina grande, estava sempre cheia e com água pura e gelada do monte.

O rapaz olhava para a planície de tundra, vista do alto. Era impressionante como se estendia para todas as direções, até onde seus olhos podiam acompanhar. Havia se acostumado a muitas coisas, nesses meses que se passaram. Acostumara-se à rotina pesada de treino, acordando antes do sol nascer e deitando-se muito depois do poente. Às aulas teóricas sobre o Seishin e como manipulá-lo. Às práticas incessantes em seu controle e a quase obcessão de Rester com a perfeição de seu uso. Acostumara-se à solidão, pois embora tivesse ali a companhia de sua antiga mentora, de Draco, o cavaleiro encouraçado e de Leto, o assassino das sombras, quase não conversava com nenhum deles. Tentara, é verdade, mas foram todos evasivos e lacônicos, e ele desistiu do contato.

Acostumara-se com tudo isso, mas a visão da gigantesca floresta de tundra sempre o entretinha. Era enorme, e ali, naquela janela, ele sempre viajava em pensamentos. Em como sua vida tinha sido estranha desde o início. Ser deixado no conservatório Mordecai, em regime de internato, como o bastardo de um lorde que sabia não ser seu verdadeiro pai. As lições de música com o velho Aviharas, um excelente flautista. A chegada da estranha da lira, que tornou-se sua mentora, tanto na música quanto nas artes de guerra. Sempre estranhou a necessidade dela de ensiná-lo a lutar. Agora entendia o porquê.

Desde que Aviharas falecera, levado pela idade, sua mentora, lady Saddler, intensificara os treinos. Quando o conservatório foi atacado, eles rapidamente fugiram. Quase como se ela já esperasse o ataque, James pensou, como várias vezes pensara nesse detalhe. A tropa do corvo, enegrecendo os céus e terras por onde passaram. Foi uma longa viagem até o monte Heller. Até Rester, seu verdadeiro pai. Uma viagem sofrida, onde acabou por conhecer Leto, um assassino, que fez com que o rapaz lutasse com tudo para sobreviver, até se anunciar como aliado de seu pai. O garoto ainda pensava se Leto o teria matado, caso ele tivesse falhado em se defender. Melhor não descobrir.

Seus olhos foram desviados para seu sabre, sobre a cama. Mantinha a arma afiada com esmero, cuidando dela todos os dias. Nesses meses a espada tornara-se uma extensão de seu braço. Ele sabia que agora estava muito forte e esgrimindo com velocidade. Não sabia se seria o bastante, mas acreditava que poderia ainda melhorar. Seu controle do Seishin também estava melhorando, e ele agora conseguia escalar apenas tocando nas paredes, saltar grandes distâncias e aumentar em muito a potência de seus golpes, sem ficar cansado como ficava antigamente.

Entretanto, uma coisa perturbava o jovem. Seu pai lhe falara sobre uma técnica secreta. Algo que nem o próprio Rester conseguira dominar completamente. Uma evocação que levava ao extremo os limites físicos e mentais do conjurador, e que, feita corretamente, lhe permitia destruir qualquer coisa. Entretanto, feita de forma incorreta, levava à morte daquele que tentou conjurá-la.

O Último Dragão.

James treinava com afinco, mas temia a técnica. Temia o poder dela em si, e o que faria com tamanha dádiva. Temia a morte, a falha. Mais que tudo, temia ser incapaz de ajudar os outros e cair, antes mesmo de combater. Afinal, era só um garoto, na fase de inseguranças e anseios. Foi pensando nessas coisas que encaminhou-se para sua cama e adormeceu. Um sono conturbado, com montanhas, vales, rios. Uma casa grande sendo queimada. Uma mulher bonita sendo arrastada por correntes, junto com mais duas mulheres e uma adolescente. Um homem morto no chão. Soldados de armadura conduzindo prisioneiros para um castelo de torres negras, numa grande rocha segura por correntes na boca de um vulcão. A mulher sentada em um calabouço, chorando, abraçada com as outras duas mulheres e a adolescente. A jovem olhou em seus olhos.

Subitamente acordou, sentando-se em sua cama. Sentia os pelos arrepiados, a pele como que depois de uma descarga de energia elétrica. A mão segurou o cabo do sabre. Já desperto, ainda via os olhos da garota.

Prateados.

Já desperto, ainda via a mulher vertendo lágrimas. A bela mulher que um dia lhe ninara e lhe dera o nome de James, em homenagem ao seu avô materno. A linda nobre de Ibehria que o carregara no ventre por nove meses. Inspirou fundo o ar em seu peito e se levantou, paramentando-se para a batalha.

-Mãe, espere por mim. Não vou lhe desapontar.

Continua...

3 comentários:

Marcus disse...

São de garotos assim que conseguem grandes feitos, pois eles tem um real motivo p lutar...
esse conto ta ficando cada vez melhor...
parabéns!!!

Rodolfo disse...

@Lorena - Continue acompanhando a história e torça por James! Acredite, ele vai precisar, rsrs.
@Marcus - Obrigadão pelo apoio! E sim, os que conseguem grandes feitos são os que tem reais motivos para batalhar!

tainara elektra disse...

muito bom como sempre !!!!!!!!!

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