terça-feira, 29 de junho de 2010

O Bardo - Capítulo 9


Capítulo 9 - A caçada

O mensageiro corria apressado, seu perseguidor muito próximo. Viajava já há dias, tentando alertar o exército de Ibehria. O Batalhão de reconhecimento ao norte havia sido totalmente aniquilado e a Tropa do Corvo atacaria a capital descendo a cordilheira de Tulkas. Se chegassem à capital, o reino seria derrotado.

O homem, alto e forte, coberto por uma capa esverdeada e usando uma armadura leve de couro, esgueirou-se para trás de uma rocha, afundando seus tornozelos na lama. Respirou fundo, aguçando seus ouvidos, tentando localizar seu perseguidor. Quando o batalhão fora destruído Ralvan se escondeu na mata e iniciou seu caminho de volta. Acreditou ter despistado todos os soldados mas, na manhã seguinte, percebeu que estava enganado.

Acordara assutado, olhando a cabeça de McDugall, seu amigo, pendurada sobre uma árvore. Estava sendo perseguido, e o caçador parecia gostar de brincar com sua presa. Sentindo-se já meio morto, o mensageiro decidiu usar todas as suas forças para chegar à capital. O inimigo era cruel, e Ralvan temeu pela segurança de seus familiares, fazendeiros que viviam próximos ao centro do reino.

Já no terceiro dia de perseguição, o mensageiro ainda não vislumbrara seu caçador. Sentia-se sempre observado. Dormia mal, poucas horas. Comia em marcha, apressado. Olhava por sobre os ombros a cada instante. Já pensava estar ficando louco, cada segundo parecendo ser seu último. Por vezes disparou flechas em pequenos animais ou em galhos que balançaram na mata ao sabor do vento. Até sua aljava ficar vazia.

Abandonou o arco e sacou sua faca longa. A sensação de apertar o cabo da arma dando-lhe certa tranquilidade. Mais cinco dias se passaram, e suas provisões acabaram. Começou a passar fome e sede, os males juntando-se ao sono e ao cansaço. Cada vez que a esperança começava a lhe abandonar, lembrava a si mesmo que faltavam apenas mais dois dias de marcha até o posto de observação mais próximo.

Faltava apenas um dia. O posto era guarnecido por uma quinzena de lanceiros e outra de arqueiros. Estaria seguro lá. Poderia entregar sua mensagem e depois descansar, protegido por trinta oficiais competentes. Perdera sua faca na trilha, tão cansado que já nem lembrava em que momento.

Felicidade. Avistou a torre de madeira e pedra, erguida em uma clareira na borda da floresta. A fumaça saindo da chaminé lhe indicando a presença dos soldados. Sentiu as lágrimas rolando de seus olhos. Ficaria vivo. Entregaria a mensagem. Salvaria o reino.

Correu os últimos metros, até a entrada da torre. Subiu as escadas até o observatório, onde ficava o posto de observação propriamente dito, a lareira e os mantimentos. Depois de subir o último degrau, deixou-se cair no piso de madeira lustrosa. Respirava pesadamente, seu rosto tocando o chão. Estava seguro.

Foi quando sentiu uma substância quente e pegajosa entre sua face e o chão. Ouviu uma voz que gelou sua espinha.

-O que eu mais gosto é desse olhar, mensageiro. É delicioso ver a esperança abandonar seus olhos. Abandonar os olhos da caça. Ficam opacos quando a presa percebe que vai morrer. Percebe que se esforçou em vão.

Ralvan ergueu a cabeça. O líquido pegajoso era sangue. No salão circular, jaziam trinta oficiais decaptados. Seus corpos empilhados próximo da lareira. As cabeças dispostas em cima de uma mesa de mogno. Sentado em uma poltrona confortável, na frente da lareira acesa, a caçadora.

Era uma mulher jovem, pouco mais de vinte anos. Os cabelos ruivos presos em uma trança até o meio de suas costas. Trajava uma armadura de placas sobrepostas que lhe caía de forma sensual, apesar de não revelar um centímetro de sua pele até o pescoço. Suas mãos estavam cruzadas sobre suas coxas, cada uma empunhando uma espécie de faca longa e lâmina levemente curvada. Gotejava sangue. Seus olhos verdes encontraram os olhos de Ralvan, e ela percebeu a opacidade.

Levantou-se.

-Obrigado mensageiro. Me proporcionou um verdadeiro prazer. Vou te conceder a minha maior dádiva para minhas presas. Você vai gostar, prometo. Eu sei que vou adorar.

Com um sorriso lascivo, a caçadora decaptou o mensageiro com um golpe limpo e rápido. Limpou as lâminas na capa do cadáver e embainhou as facas em sua cintura. Caminhou elegantemente até a cabeça, segurando-a pelos cabelos. Olhou em seus olhos.

-Isso mensageiro, é o seu prêmio. Sinta-se honrado, poucos já receberam.

A caçadora beijou os lábios do cadáver de forma voluptuosa, uma lascívia repugnante. Depois largou a cabeça sobre a mesa e desceu as escadas. Parte de sua missão estava completa. O caminho da Tropa do Corvo estava limpo. Faltava apenas um passo em sua missão.

Caçar o filho de Rester.

Continua...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cerimônia do Chá


Olá leitoras e leitores! Tão esperada, hoje é dia da continuação do conto
Queda Livre, postado pela primeira vez na primeiríssima edição da minha querida Cerimônia do Chá.

Sem mais delongas, curtam mais um ótimo texto da nossa colaboradora Sayu! E não deixem de conferir outros textos maneiríssimos dela em seu blog
Papel Rasgado.

Queda Livre

Parte 2

Estava escuro. Rachel estendeu as mãos.

Sentiu a escuridão escorrer por entre seus dedos. O breu era palpável, semi-sólido, como uma névoa densa em sua volta. Subitamente, a cortina negra se abriu ao seu redor.

Rachel se viu no topo de um edifício, observando os carros e as pessoas lá embaixo, ao longe. Muito longe. Estava alto, e apesar de nunca ter sido acometida de qualquer fobia de altura, achou que ia cair para trás com aquela visão.

Por outro lado... Uma voz em seu ouvido lhe dizia: “Pule, vamos. Liberte-se.”

Aquilo a fez se sentir estranha. Como se estivesse ansiosa para pular, ansiosa pela liberdade do vôo derradeiro. Uma risada macabra soou em seu ouvido.

“Pule, como eu pulei. E morra sem conseguir aplacar seu desespero... Como eu morri!”

Rachel virou-se, se deparando com um rosto desfigurado, olhos injetados de sangue. Foi empurrada para o vazio...


***


A jovem policial acordou gritando em sua cama. O teto de seu quarto a fez perceber que ainda estava ali, viva, e não caindo de um edifício. Porém, o sonho tinha sido extremamente real.

Seu coração batia descompassado.

- Preciso de café... – ela murmurou consigo mesma, afastando os cobertores.

O mesmo pesadelo a atacava novamente.


***


- Hey, Rach – James cumprimentou a parceira ao vê-la chegar na delegacia. – Você parece péssima. Passou a noite acordada?

- Quem dera – A policial disse, sem emoção. Sentou-se à sua mesa e começou a mexer em papéis distraidamente, esperando esquecer seu pesadelo.

- Já estou com o relatório do legista.

Rachel suspirou. O caso do elevador lhe perturbava e lhe intrigava ao mesmo tempo.

- Que rápido.

Nesse momento, o telefone na mesa de James toca, e ele atende. Sua expressão facial muda.

- Certo. Estamos a caminho.

- O que houve? – Rachel pergunta.

- Suicídio coletivo. – James responde, pegando o casaco e se retirando, com Rachel logo atrás.


***


- O que está acontecendo com as pessoas essa semana? – A policial exclamou, olhando para a massa sangrenta embaixo de plástico preto.

Vários curiosos se amontoavam em volta da fita amarela, e James olhava um dos corpos mais de perto. Rachel não queria chegar perto deles, o que era estranho para sua profissão, em que estava acostumada a lidar com esse tipo de coisa. Ela sentia algo muito sinistro ali.

- São todas mulheres – Ele concluiu, baixando o plástico. – Devem ter se atirado do último andar, pelo estado do corpo. Interessante...

- O que pode ser interessante em uma situação dessas, James?

- Lembra muito o corpo que encontramos no elevador ontem, apesar de ser uma situação completamente diferente.

- Certo... Vou coletar depoimentos – Rachel disse, querendo se livrar da visão do pesadelo que novamente a atormentava.

Ela foi até uma mulher que estava sentada em uma ambulância, levemente histérica. Parecia que tinha acabado de tomar um calmante.

- Senhora...

A mulher virou a cabeça rapidamente, parecendo mortalmente assustada.

- Eu disse pra elas não pularem!

- Acalme-se, senhora. Conte-me o que aconteceu, com calma.

- Foi a sombra! A sombra as matou... A sombra queria suas almas para si!

Rachel olhou para o médico ao lado. Ele deu de ombros, como se dissesse que nada podia fazer. Já tinha aplicado um calmante na mulher, mas parecia não estar fazendo muito efeito. Subitamente, ela começou a gritar, histérica.

- Eu sinto! Ela está sobre nós! EU A VEJO EM VOCÊ!

Dois médicos precisaram segurar a mulher enlouquecida para aplicar um sedativo, enquanto Rachel observava, transtornada. Havia algo de sinistro ali, ela tinha certeza. Seus sonhos a alertaram disso desde o início.

Continua na próxima cerimônia do chá!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Bardo - Capítulo 8


Capítulo 8 - Aqueles que partem e Aqueles que ficam

-Você só pode estar louco filho! é muito arriscado ir até lá novamente! No exato momento que deixar a montanha de Heller, minha proteção não estará mais sobre você e seu Seishin poderá ser rastreado! A tropa do corvo cairá sobre você num instante! Comandados por seus generais!

A voz de Rester ecoava nos salões do templo. No salão principal, James se postava de pé, frente ao seu pai. Trajando uma armadura composta por uma liga metálica leve, porém muito resistente, manto negro por sobre o corpo, sabre na cintura e mochila às costas. Olhar determinado. Rester o observava, quase com raiva. Menino tolo, colocando tudo a perder. Tudo por causa de uma mãe com quem ele viveu por minutos. Imprudência, total imprudência.

-Lorde Rester, me desculpe, mas é minha mãe. A vi, pelas flutuações do Seishin, e vou salvá-la. Não deixarei que nada de mal lhe aconteça. Eu prometi. Não posso voltar atrás com a minha palavra.

James omitiu a visão da jovem de olhos prateados. Não sabia quem era, e decidiu que poderia ser um agravante, mais um empecilho à sua partida. Gostaria de ficar e aprender mais. Entretanto, não poderia deixar sua mãe à mercê desses malditos. Além disso, essa viagem lhe seria um teste. Caso fosse derrotado, saberia que não era ele o responsável pela derrota da tropa. Seria outro então. Tinha fé em uma vitória da liberdade.

-Senhores, com todo o respeito, acho esse colóquio rude e desnecessário, - ressoou a voz metálica de Draco - se me permitem expor minha opinião. Lorde Rester, seu filho tem o direito de fazer o que bem quiser, e o senhor, como defensor do fundamento da liberdade, não pode impedí-lo. No entanto, gostaria de sugerir que seu filho não viajasse sozinho. Tomei a liberdade, inclusive, de providenciar companhia apropriada.

O portão da sala do trono se abriu, revelando uma silhueta parcialmente encoberta pelas sombras. Leto caminhava sem fazer ruído, olheiras fundas em seu rosto moldado em uma feição séria. Um calafrio percorreu o corpo de James. Era a primeira vez que via o Assassino das Sombras com uma máscara letal, olhar de assassino. Sentiu que a temperatura decaiu em alguns poucos graus enquanto o homem se aproximava, trajando sua armadura obscura.

-Cá estou, Lorde Rester, quais as ordens?

James achou estranho os modos de Leto. Observou-o. O assassino mantinha-se em retidão, encarando Rester nos olhos. O Lorde retribuiu o olhar por alguns instantes, antes de se pronunciar. Levantou-se do trono e caminhou até a janela, observando o horizonte. Finalmente, voltou-se para as pessoas no salão. Ergueu a voz.

-Draco, chame Lady Saddler. Leto, você acompanhará meu filho tolo na busca. Proteja-o com sua vida. Proteja Lady Saddler também, ela irá com vocês. Draco ficará aqui, e aguardará seu retorno. Caso tenham problemas insolúveis, mande uma mensagem e Draco irá em seu auxílio.

Lady Sadller adentrou o salão, já pronta para a viagem. Envergava uma armadura de couro batido, coberta por um manto cinzento. Às costas carregava um arco composto e à cintura um sabre. Mochila e aparatos foram largados no chão, ao seu lado. Olhou para todos os presentes.

-Estou aqui meu Lorde. Quais as ordens?

James a observou, igualmente intrigado. Então iriam todos com ele. Pra lhe proteger. Não queria colocar mais pessoas em risco, mas não desistiria de ir em auxílio de sua mãe. Prometeu à si mesmo que defenderia à todos, custasse o que custasse.

-Você acompanhará meu filho, Lady. Seja seus olhos e ouvidos, guie-o até seu objetivo. Proteja-o.

Rester quis acrescentar "Porque sabe que ele é muito importante pra mim e o amo", mas calou-se. Os três partiram de imediato, descendo a encosta da montanha, sem dificuldade, todos hábeis controladores do Seishin. O Lorde ficou no topo, observando, durante horas além do cair da noite. Em silêncio, dirigiu uma prece ao Astro Rei.

De súbito, teve uma idéia. Dirigiu-se ao interior da montanha.

Era hora de libertar a Quimera.

Continua...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Rolando os Dados - A difícil missão do mestre!


Olá senhoras e senhores roladores de dados! Como andam passando?

Nessa semana eu vim falar sobre um tema meio aleatório, mas que incorre na minha cabeça, durante a escrita de uma história ou a elaboração de uma partida de RPG.

A morte.

Dos personagens, claro. Nas histórias, diferentemente da vida, é difícil ocorrer de alguém morrer "por acaso", em um acidente sem nenhuma repercussão para a "história". Busquem em suas memórias qual filme vocês já viram que tem um tipo de morte assim.

Os filmes de aventuras fantásticas, assim como os livros, não tem mortes desnecessárias. Não, ao menos, de personagens importantes. Essas mortes geralmente tem um propósito, um objetivo pra história. Matar um personagem que o leitor não vai sentir falta e não vai se lembrar das circunstâncias do falecimento é chato, não significa nada.

Mas quando morre um personagem querido pelo leitor/jogador, em uma situação memorável, aí sim há um acréscimo no enredo.

Pessoalmente, como mestre, não gosto que os personagens morram do nada, apenas caindo em uma batalha secundária. Gosto que os jogadores sintam o risco, mas torço pra que eles vençam. Uma morte é bem aproveitada quando para um grande vilão, numa batalha épica, ou numa situação onde aquela morte permite que outros se salvem, ou que a missão seja completada. Ou ainda, quando aquela morte, por si só, cria mais e mais ganchos para histórias futuras.

Aconselho alguns filmes e livros para me fazer entender melhor. O Último Samurai faz um excelente uso desse tipo de morte, com significado, em diversas passagens. Gladiador também. São filmes que mostram um clima que eu, pessoalmente, curto em aventuras de RPG ou histórias escritas.

Pra quem gosta do oposto, existem também várias histórias com esse clima mais cru, mais realista ao extremo, mostrando certas mortes estúpidas e sem sentido, como de fato ocorre na vida real. Desses eu estou lendo Xógum, e existem várias passagens onde os samurais tratam a morte como algo banal. Além disso, acabam ocorrendo mortes tão reais quanto possível, quando, por exemplo, ocorre um abalo de terra, e cento e cinquenta e poucas pessoas são soterradas, e depois todos continuam vivendo como se nada houvesse acontecido.

Enfim, desculpem-me se divaguei demais, mas isso é um tema que recorre em mesas de jogo, e eu fico pensando qual forma de encarar a morte de personagens é a melhor.

Fantástico ou Realista?

Isso quem responde são vocês.

Sayonara.

PS: Eu tinha umas imagens maneiras pra colocar, mas o blogspot resolveu me impedir, então eu as postarei em uma outra ocasião. Gomen!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Comunicado!


Olá senhoras e senhores, queridos leitores e colaboradores.
Antes de mais nada, muito obrigado pelo apoio! Graças à ele, estou me esforçando em melhorar sempre!

Vim informar que essa semana não haverá seguimento do conto "O Bardo" por duas razões.

A primeira é que a história chegou em um ponto onde eu preciso tomar decisões que a levem para o fim, de forma que, tendo sido a minha semana passada totalmente cheia com trabalhos e testes na faculdade, ainda não consegui tomar tais decisões.

A segunda é que eu me decepcionei com um assunto pessoal, e fiquei giga-desanimado pra escrever hoje, ou tomar qualquer decisão referente à história, de forma que, se hoje eu escrevesse, haveria o grande risco de ficar uma porcaria muito grande, matando personagens que não merecem ser mortos e tudo o mais.

Assim, peço grandes desculpas e espero que todos me compreendam.

Adoro vocês! E, não esquecendo, Brasil eô, vamos com tudo! rsrs

Sayonara e gomen!

PS: Quarta-feira tem "Rolando os Dados" de novo, pros leitores que curtem RPG. Abraços!

terça-feira, 8 de junho de 2010

O Bardo - Capítulo 7


Capítulo 7 - O Último Dragão.

James estava sentado no peitoril da janela de seu quarto, localizado no salão mais alto da torre mais baixa do templo sobre a montanha de Heller. O aposento era grande e, embora com decoração simples, não deixava de ter seus luxos. Era uma sala circular, com uma cama no centro, de madeira e colchão de lã, um carpete macio cobrindo toda a extensão do piso e uma pequena fonte de pedra, na parede oposta à da janela, de onde a água brotava e escoava, por um sistema de drenagem sofisticado, de forma que a fonte, do tamanho de uma tina grande, estava sempre cheia e com água pura e gelada do monte.

O rapaz olhava para a planície de tundra, vista do alto. Era impressionante como se estendia para todas as direções, até onde seus olhos podiam acompanhar. Havia se acostumado a muitas coisas, nesses meses que se passaram. Acostumara-se à rotina pesada de treino, acordando antes do sol nascer e deitando-se muito depois do poente. Às aulas teóricas sobre o Seishin e como manipulá-lo. Às práticas incessantes em seu controle e a quase obcessão de Rester com a perfeição de seu uso. Acostumara-se à solidão, pois embora tivesse ali a companhia de sua antiga mentora, de Draco, o cavaleiro encouraçado e de Leto, o assassino das sombras, quase não conversava com nenhum deles. Tentara, é verdade, mas foram todos evasivos e lacônicos, e ele desistiu do contato.

Acostumara-se com tudo isso, mas a visão da gigantesca floresta de tundra sempre o entretinha. Era enorme, e ali, naquela janela, ele sempre viajava em pensamentos. Em como sua vida tinha sido estranha desde o início. Ser deixado no conservatório Mordecai, em regime de internato, como o bastardo de um lorde que sabia não ser seu verdadeiro pai. As lições de música com o velho Aviharas, um excelente flautista. A chegada da estranha da lira, que tornou-se sua mentora, tanto na música quanto nas artes de guerra. Sempre estranhou a necessidade dela de ensiná-lo a lutar. Agora entendia o porquê.

Desde que Aviharas falecera, levado pela idade, sua mentora, lady Saddler, intensificara os treinos. Quando o conservatório foi atacado, eles rapidamente fugiram. Quase como se ela já esperasse o ataque, James pensou, como várias vezes pensara nesse detalhe. A tropa do corvo, enegrecendo os céus e terras por onde passaram. Foi uma longa viagem até o monte Heller. Até Rester, seu verdadeiro pai. Uma viagem sofrida, onde acabou por conhecer Leto, um assassino, que fez com que o rapaz lutasse com tudo para sobreviver, até se anunciar como aliado de seu pai. O garoto ainda pensava se Leto o teria matado, caso ele tivesse falhado em se defender. Melhor não descobrir.

Seus olhos foram desviados para seu sabre, sobre a cama. Mantinha a arma afiada com esmero, cuidando dela todos os dias. Nesses meses a espada tornara-se uma extensão de seu braço. Ele sabia que agora estava muito forte e esgrimindo com velocidade. Não sabia se seria o bastante, mas acreditava que poderia ainda melhorar. Seu controle do Seishin também estava melhorando, e ele agora conseguia escalar apenas tocando nas paredes, saltar grandes distâncias e aumentar em muito a potência de seus golpes, sem ficar cansado como ficava antigamente.

Entretanto, uma coisa perturbava o jovem. Seu pai lhe falara sobre uma técnica secreta. Algo que nem o próprio Rester conseguira dominar completamente. Uma evocação que levava ao extremo os limites físicos e mentais do conjurador, e que, feita corretamente, lhe permitia destruir qualquer coisa. Entretanto, feita de forma incorreta, levava à morte daquele que tentou conjurá-la.

O Último Dragão.

James treinava com afinco, mas temia a técnica. Temia o poder dela em si, e o que faria com tamanha dádiva. Temia a morte, a falha. Mais que tudo, temia ser incapaz de ajudar os outros e cair, antes mesmo de combater. Afinal, era só um garoto, na fase de inseguranças e anseios. Foi pensando nessas coisas que encaminhou-se para sua cama e adormeceu. Um sono conturbado, com montanhas, vales, rios. Uma casa grande sendo queimada. Uma mulher bonita sendo arrastada por correntes, junto com mais duas mulheres e uma adolescente. Um homem morto no chão. Soldados de armadura conduzindo prisioneiros para um castelo de torres negras, numa grande rocha segura por correntes na boca de um vulcão. A mulher sentada em um calabouço, chorando, abraçada com as outras duas mulheres e a adolescente. A jovem olhou em seus olhos.

Subitamente acordou, sentando-se em sua cama. Sentia os pelos arrepiados, a pele como que depois de uma descarga de energia elétrica. A mão segurou o cabo do sabre. Já desperto, ainda via os olhos da garota.

Prateados.

Já desperto, ainda via a mulher vertendo lágrimas. A bela mulher que um dia lhe ninara e lhe dera o nome de James, em homenagem ao seu avô materno. A linda nobre de Ibehria que o carregara no ventre por nove meses. Inspirou fundo o ar em seu peito e se levantou, paramentando-se para a batalha.

-Mãe, espere por mim. Não vou lhe desapontar.

Continua...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Comunicado!



Aiai, queridos leitores e leitoras! Parece que o post atrasar tá virando tão habitual que eu vou considerar colocá-lo sempre na quarta-feira... mas como essa semana não será bem assim, ainda não é uma decisão definitiva!

Assim sendo, por causa de mais um infortúnio acadêmico (aliás, três - Estudo Dirigido de Psiquiatria, Trabalho de Medicina Intensiva e Trabalho de Cardiologia), o conto será postado amanhã, dia 08/06!

Espero que me perdoem. Estou me esforçando!

PS: Mais uma vez, só pra não dizer que não postei NADA relativo ao conto O Bardo, está aí um concept art do jogo Fire Emblem (O Cavaleiro Negro, ou Black Knight, para os íntimos). Esse concept serviu como base de inspiração para a aparência de Draco, o cavaleiro encouraçado (embora eu tenha visto essa imagem DEPOIS de escrever o primeiro capítulo onde ele aparece... mas achei-o tão legal, que serviu pra mim como base). Ainda não fiz minhas próprias versões de cada personagem, mas isso está em andamento. Aguardem, para as próximas semanas, um post apenas com concept arts, by me.

Agradeço o apoio e compreensão!

Sayonara!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O Bardo - Capítulo 6


Capítulo 6 - Liberdade e Lealdade

Dentro do enorme salão, havia um trono. De espaldar reto e alto, se erguia imponente, no centro do aposento. Composto de prata maciça, era o trono de um rei, ou de um Deus. Acomodado de forma quase relapsa, um homem alto, trajando vestes cinzentas. Seus cabelos longos, soltos, caíam sobre seu peito. Tinha o nariz reto e o queixo quadrado, coberto por uma barba rente. Seus olhos, ao contrário de sua postura, encaravam, firmes, o portão duplo que conduzia até sua alcova. Era um belo aposento, ele sabia. Sustentado por doze colunas de pedra negra, as paredes cobertas por runas, que contavam uma história muito importante. A história de sua família e de sua ascendência.

A história dos Tocados.

Rester se levantou do trono, se aproximando de uma das paredes. Lembrando-se das guerras e vitórias descritas nos entalhes, sentiu sua mente divagar. Mal se deu conta de que a porta havia sido aberta, e o cavaleiro encouraçado, Draco, conduzia o jovem James até o salão. O rapaz estava encabulado, quase não erguendo os olhos do chão. A voz clara do homem de armadura fez-se ouvir.

-Lorde Rester, eu lhe trago seu filho, o jovem amo James.

O garoto, involuntariamente, levantou os olhos, encarando seu pai. O manto de Rester deixava seus braços descobertos. Eram musculosos e com algumas cicatrizes. O braço direito era coberto por tatuagens de padrões tribais. As mãos eram cobertas por luvas de couro, com aberturas para os dedos. Suas vestes desciam até seus pés, calçados com sandálias de corda. James tinha mais a impressão de observar um centurião do que um lorde. O homem fez sinal para que Draco saísse, e ambos foram deixados à sós.

-Fez boa viagem até aqui?

A pergunta, tão simples quanto inusitada, desarmou James. Aquilo era preocupação genuína, preocupação paterna. O garoto caminhou para mais perto daquele homem intrigante e olhou para as runas na parede, desviando um pouco o olhar dos fortes olhos de Rester.

-Sim, acho que sim... o que são essas runas nas paredes? Parecem familiares, mas eu não sei traduzí-las.

Rester sorriu levemente. Contou ao garoto que, dois mil anos atrás, o mundo era governado por um reinado de tirania. Toda a civilização conhecida estava à mercê de ditadores e déspotas, corruptos, inescrupulosos. Àquele tempo, Yavan, um descendente direto do Astro Rei, desceu ao solo e combateu a maldade. Aquele ser celestial venceu a batalha e livrou os povos da escravidão e opressão. Yavan então casou-se, e teve treze filhos. Esses filhos formaram clãs, e cada clã tornou-se responsável por defender um aspecto da vida. Tinham apenas uma coisa em comum. Seus olhos e cabelos prateados.

-E essas runas contam a história de Aion, o filho mais novo de Yavan, cujo clã defendia a liberdade. Ele foi traído... todos foram... por Ikezo, aquele que defendia a lealdade... irônico, não? Aion se sacrificou para salvar seus filhos, duas crianças, e os enviou para um mosteiro. Lá foram os dois treinados e desenvolveram exímias capacidades de combate. Um deles ficou no mosteiro, sendo nomeado sumo-sacerdote. O outro resolveu viajar pelo mundo, aguardando o momento em que os filhos de Ikezo tentariam desferir seu golpe derradeiro na humanidade, assim ele estaria atento, e poderia lutar para impedir que o ideal que seu pai preservava, a liberdade, fosse mais uma vez ameaçado.

Era, definitivamente, muita informação para digerir de uma só vez. James caminhou lentamente, seguindo o fluxo das runas, tentando imaginar a história fantástica que acabara de ouvir. Celestiais, filhos mais velhos e mais novos, traição. Olhou novamente para Rester, que parecia pensativo.

-Você é o outro?

O homem se sentiu cansado, momentaneamente. Velho, até, embora aparentasse apenas quarenta e poucos anos. Depois sorriu. Seu filho parecia ter bastante da perspicácia de sua linhagem. Caminhou até o trono e olhou pela grande janela que ficava na parede atrás do espaldar. Podia ver as nuvens escuras se reunindo, um presságio dos tempos por vir.

-Sim, meu filho... meu irmão, desejoso de paz, ficou no mosteiro. Sinto saudades dele. Por muitos anos viajei por terra e mar, até me estabelecer aqui. Demorou dezoito anos para que eu conseguisse construir esse templo. Aqui passei longos anos em espera e meditação. Em alerta. Sabia que era questão de tempo para que os filhos de Ikezo atacassem novamente. E tinha razão... você mesmo viu a bandeira deles.

Corvo negro sobre fundo branco.

James lembrou-se do ataque ao conservatório Mordecai. Parecia ter acontecido há uma eternidade, embora não fizesse mais do que cinco semanas. Realmente aqueles soldados eram uma ameaça importante, e se houvesse número suficiente, poderiam conquistar toda Ibehria. Tocou, involuntariamente, o cabo do sabre. Surpreendeu-se ao ver um sorriso no rosto de Rester, que pareceu perceber seu movimento.

-Aqueles sob o estandarte do corvo são uma ameaça, e cabe à nós lidar com ela... sei que foi jogado nisso contra sua vontade, meu filho, mas eu peço seu auxílio. Fique aqui, em Heller. Treine comigo por doze meses. Aprenda o que eu tenho a ensinar... aprenda a controlar e a fazer fluir o Seishin. Juntos podemos vencer o mal que se abate sobre a liberdade das pessoas.

James pensou por alguns segundos apenas. Sempre havia procurado seu lugar no mundo. Naquele mundo, onde era um filho bastardo abandonado em um conservatório. Finalmente encontrara-se, mas em um mundo diferente. Um mundo onde era o filho de um herói de guerra. Um mundo que necessitava de sua ajuda para ser salvo. O garoto sorriu. Sabia, finalmente, o que deveria fazer.

-Conte comigo, pai.

Continua...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Comunicado!



Olá senhoras e senhores leitores! Novamente um infortúnio acadêmico se abate sobre este que vos escreve! Assim sendo, vim me desculpar pelo atraso na produção do conto "O Bardo". Aguardem que, esta quinta-feira, 03/06, ele já estará de volta!

Quanto ao último comunicado: O doce será entregue assim que possível!

E obrigado à todos pelo feedback sobre o layout do blog, a fonte, e muito obrigado pelo apoio e compreensão!

Adoro todos vocês!!

PS: Pra não dizer que eu não postei NADA sobre O Bardo, esse desenho, que eu fiz durante uma aula de microbiologia, na faculdade, foi a inspiração direta para o personagem central, James. Ele foi bastante influenciado por Vincent Valentine, de Final Fantasy VII. Cliquem na imagem para ver em maior resolução.

Sayonara.