quinta-feira, 3 de junho de 2010

O Bardo - Capítulo 6


Capítulo 6 - Liberdade e Lealdade

Dentro do enorme salão, havia um trono. De espaldar reto e alto, se erguia imponente, no centro do aposento. Composto de prata maciça, era o trono de um rei, ou de um Deus. Acomodado de forma quase relapsa, um homem alto, trajando vestes cinzentas. Seus cabelos longos, soltos, caíam sobre seu peito. Tinha o nariz reto e o queixo quadrado, coberto por uma barba rente. Seus olhos, ao contrário de sua postura, encaravam, firmes, o portão duplo que conduzia até sua alcova. Era um belo aposento, ele sabia. Sustentado por doze colunas de pedra negra, as paredes cobertas por runas, que contavam uma história muito importante. A história de sua família e de sua ascendência.

A história dos Tocados.

Rester se levantou do trono, se aproximando de uma das paredes. Lembrando-se das guerras e vitórias descritas nos entalhes, sentiu sua mente divagar. Mal se deu conta de que a porta havia sido aberta, e o cavaleiro encouraçado, Draco, conduzia o jovem James até o salão. O rapaz estava encabulado, quase não erguendo os olhos do chão. A voz clara do homem de armadura fez-se ouvir.

-Lorde Rester, eu lhe trago seu filho, o jovem amo James.

O garoto, involuntariamente, levantou os olhos, encarando seu pai. O manto de Rester deixava seus braços descobertos. Eram musculosos e com algumas cicatrizes. O braço direito era coberto por tatuagens de padrões tribais. As mãos eram cobertas por luvas de couro, com aberturas para os dedos. Suas vestes desciam até seus pés, calçados com sandálias de corda. James tinha mais a impressão de observar um centurião do que um lorde. O homem fez sinal para que Draco saísse, e ambos foram deixados à sós.

-Fez boa viagem até aqui?

A pergunta, tão simples quanto inusitada, desarmou James. Aquilo era preocupação genuína, preocupação paterna. O garoto caminhou para mais perto daquele homem intrigante e olhou para as runas na parede, desviando um pouco o olhar dos fortes olhos de Rester.

-Sim, acho que sim... o que são essas runas nas paredes? Parecem familiares, mas eu não sei traduzí-las.

Rester sorriu levemente. Contou ao garoto que, dois mil anos atrás, o mundo era governado por um reinado de tirania. Toda a civilização conhecida estava à mercê de ditadores e déspotas, corruptos, inescrupulosos. Àquele tempo, Yavan, um descendente direto do Astro Rei, desceu ao solo e combateu a maldade. Aquele ser celestial venceu a batalha e livrou os povos da escravidão e opressão. Yavan então casou-se, e teve treze filhos. Esses filhos formaram clãs, e cada clã tornou-se responsável por defender um aspecto da vida. Tinham apenas uma coisa em comum. Seus olhos e cabelos prateados.

-E essas runas contam a história de Aion, o filho mais novo de Yavan, cujo clã defendia a liberdade. Ele foi traído... todos foram... por Ikezo, aquele que defendia a lealdade... irônico, não? Aion se sacrificou para salvar seus filhos, duas crianças, e os enviou para um mosteiro. Lá foram os dois treinados e desenvolveram exímias capacidades de combate. Um deles ficou no mosteiro, sendo nomeado sumo-sacerdote. O outro resolveu viajar pelo mundo, aguardando o momento em que os filhos de Ikezo tentariam desferir seu golpe derradeiro na humanidade, assim ele estaria atento, e poderia lutar para impedir que o ideal que seu pai preservava, a liberdade, fosse mais uma vez ameaçado.

Era, definitivamente, muita informação para digerir de uma só vez. James caminhou lentamente, seguindo o fluxo das runas, tentando imaginar a história fantástica que acabara de ouvir. Celestiais, filhos mais velhos e mais novos, traição. Olhou novamente para Rester, que parecia pensativo.

-Você é o outro?

O homem se sentiu cansado, momentaneamente. Velho, até, embora aparentasse apenas quarenta e poucos anos. Depois sorriu. Seu filho parecia ter bastante da perspicácia de sua linhagem. Caminhou até o trono e olhou pela grande janela que ficava na parede atrás do espaldar. Podia ver as nuvens escuras se reunindo, um presságio dos tempos por vir.

-Sim, meu filho... meu irmão, desejoso de paz, ficou no mosteiro. Sinto saudades dele. Por muitos anos viajei por terra e mar, até me estabelecer aqui. Demorou dezoito anos para que eu conseguisse construir esse templo. Aqui passei longos anos em espera e meditação. Em alerta. Sabia que era questão de tempo para que os filhos de Ikezo atacassem novamente. E tinha razão... você mesmo viu a bandeira deles.

Corvo negro sobre fundo branco.

James lembrou-se do ataque ao conservatório Mordecai. Parecia ter acontecido há uma eternidade, embora não fizesse mais do que cinco semanas. Realmente aqueles soldados eram uma ameaça importante, e se houvesse número suficiente, poderiam conquistar toda Ibehria. Tocou, involuntariamente, o cabo do sabre. Surpreendeu-se ao ver um sorriso no rosto de Rester, que pareceu perceber seu movimento.

-Aqueles sob o estandarte do corvo são uma ameaça, e cabe à nós lidar com ela... sei que foi jogado nisso contra sua vontade, meu filho, mas eu peço seu auxílio. Fique aqui, em Heller. Treine comigo por doze meses. Aprenda o que eu tenho a ensinar... aprenda a controlar e a fazer fluir o Seishin. Juntos podemos vencer o mal que se abate sobre a liberdade das pessoas.

James pensou por alguns segundos apenas. Sempre havia procurado seu lugar no mundo. Naquele mundo, onde era um filho bastardo abandonado em um conservatório. Finalmente encontrara-se, mas em um mundo diferente. Um mundo onde era o filho de um herói de guerra. Um mundo que necessitava de sua ajuda para ser salvo. O garoto sorriu. Sabia, finalmente, o que deveria fazer.

-Conte comigo, pai.

Continua...

5 comentários:

tainara elektra disse...

Muito bom como sempre,
gostei muito da descrição de rester
bjus
=)

Rodolfo disse...

Opa! Obrigado pelo apoio e pelo comentário! É muito bom receber esse feedback!
Rester foi um tanto inspirado em um personagem de O Gladiador, bem como em um personagem de Warcraft. Alguém imagina quem sejam?

Marcus disse...

Foda...
Acho q foi inspirado no Artas, na verdade na versão evil dele o Abadon..
foi???
bom conto, continue assim

Rodolfo disse...

@Marcus - Sim, um pouco no Artas ^^!
@Lorena - Aham, estou bastante afim de fazer um "Previously..." nos próximos, pra não deixar ninguém perdido ^^

Grato pelo apoio!!

tainara elektra disse...

esperando ansiosa pelos próximos capitulos
=D
Bjo

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