segunda-feira, 12 de abril de 2010

Prólogo - Uma noite se faz dia


Era tarde na casa dos Albright. Lady Selene suava e gemia de dor, seu filho lutando para sair de seu ventre. A parteira e suas auxiliares tremiam com o frio da noite, mas a parturiente sentia um calor incontrolável. Seu marido à tudo olhava atento, segurando forte sua mão. Amava aquela mulher, mas seus pensamentos ora ali estavam, ora vagavam por informações óbvias.

Uma criança estava para nascer, e ele não era o pai.



Prólogo - Uma Noite se faz dia



Entre a nobreza de Ibehria havia uma regra implícita. Faça o que fizer, não deixe que venha à tona. E ali, naquela mansão, numa noite de inverno, uma vergonha estava nascendo. Lorde Albert caminhava de um lado para o outro, as mãos na cabeça, o raciocínio rápido. Precisava dar um fim ao bastardo. Tanto melhor que nascesse morto, mas, se não fosse o caso, deveria enviá-lo para bem longe. Um conservatório ou internato. Sim, era o que faria, tranquilizou-se. Daria algumas moedas de prata para a parteira e suas ajudantes e dormiria tranquilo.

Os gritos de dor de Lady Selene preenchiam o ambiente, e certamente eram ouvidos pelos vizinhos mais próximos. A velha parteira, curvada pela idade, estava sentada em uma banqueta de três pernas, ao pé da cama. A parturiente jazia deitada, coberta de suor, sua camisola de linho empapada com seus flúidos. Suas pernas abertas deixavam ver já os cabelos do pequeno que lutava para vir ao mundo com vida. A mulher gemia e a parteira fazia aquilo que sabia fazer melhor. Talvez a única coisa que sabia fazer, e que havia feito toda a sua vida.

Lorde Albert sentou-se ao lado de sua esposa. Por vezes se perguntava com quem ela teria deitado durante suas viagens de trabalho. Sim, pois, no momento em que chegou em casa, voltando do reino de Sépala, a gravidez de sua mulher já ia à olhos vistos. Não poderia ser seu. Não a recriminava por ceder aos desejos da carne. Ele mesmo já se deitara com pouco mais de meia dúzia de serviçais, e sua linda esposa não deveria ficar meses sem ter seus desejos satisfeitos. Não. Lorde Albert a recriminava pela estupidez de ter engravidado e agora isso ser um potencial constrangimento. Algo que deveria ser rapidamente abafado.

Subitamente, cessaram os gritos de Lady Selene. Um segundo de silêncio. Dentro de seu peito, o lorde torceu para não ouvir um choro que denunciaria a vida do bastardo. A parteira segurou o bebê nos braços, limpando-o com uma toalha. Tinha cabelos prateados e os olhinhos da mesma cor. O marido olhou para a esposa, corada, vermelha da luta pela sobrevivência. A mulher olhava para o filho, com os olhos vertendo lágrimas. Seria pelo esforço, ou ela nutria algum sentimento de afeto para com o pirralho?

Lady Selene pegou seu filho nos braços, e seu choro encheu o ambiente. Chorou apenas por alguns segundos, até que seus olhos encontraram os de sua mãe.

-Olá pequenino - disse com voz doce, quase com um sorriso nas palavras. Você vai se chamar James. Em homenagem ao seu avô, meu pai. James Albright. É um bonito nome.

Lorde Albert fez um muxoxo de canto de boca, não notado pelos outros presentes. Tinha esperança de não colocar seu sobrenome no garoto. Estranho com seus cabelos e olhos cor de prata. Olhar para o moleque lhe dava um certo mal estar. O garoto - os deuses lhe perdoassem - era estranho demais. Parecia entender tudo o que estava se passando. Como um adulto no corpo de um bebê. Seu olhar. Decidiu que logo pela manhã levaria o garoto para longe. Talvez o Conservatório Mordecai. Sim, bem longe. O pirralho poderia crescer lá. Gastaria fortunas em ouro para mantê-lo em uma instituição de tão alto nível, mas manteria a boa imagem da família.

O Lorde se preparava para deixar o aposento, quando aconteceu algo que ele jamais esqueceria, mesmo com o passar dos longos anos seguintes.

As luzes das lamparinas tremularam e apagaram. As parteiras reprimiram um grito. Lady Selene olhava, em transe, para seu filho. E, em um instante, foi como se a noite tivesse virado dia. Dos olhos, dos cabelos, da pele daquele menino emanava uma luz branca, forte como a luz do sol no momento mais claro da manhã. Lorde Albert deixou cair seus óculos no chão, pisando em cima do caro objeto e quebrando suas lentes. Praguejou consigo. Sua esposa dividira a cama com algum monstro, e agora paria um maldito híbrido. Não esperaria a manhã. Tão logo a luz do menino se apagou, e a noite tornou-se noite de novo, Lorde Albert vestiu sua casaca de viagem e buscou uma carruagem. Dispensou o cocheiro e levou ele mesmo a aberração para longe.

Levou o menino para o Conservatório Mordecai. E ele não foi visto por aquelas bandas durante longos quinze anos.

Continua...

7 comentários:

Sayu disse...

O____O

quero ler mais!

Rodox disse...

@ Sayu - Obrigado pelo apoio ^^. Vou colocar mais coisas sim! Ah, se gostou, divulgue para quem você achar que pode vir à gostar. Estou visitando seu blog agora e estou achando muito irado. Freya já tem um admirador ^^

Anônimo disse...

olá rodolfo gostei mesmo viu parabéns !!!
=)
tainara

Anônimo disse...

Morrendo de curiosidade pelo restante...

Marcus disse...

Isso aí meu garoto, história digna de uma boa aventura de rpg. Aguardando mais....
Parabéns...

Amanda!! disse...

Rô, gostei muito do começo da historinha, tanto que vou te obrigar a contar logo o final dela para mim!
Mto curioooosa.
Bjosss

Rodolfo disse...

@Amanda!! - Obrigado pelo elogio! É bom saber que a história está agradando ^^
Mas não, não contarei o final!!! rsrsrsrs

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