sábado, 13 de novembro de 2010

Cerimônia do Chá



Olá queridos leitores e leitoras! Hoje, voltamos com a minha sessão favorita do blog, onde convidados especiais colaboram com esse espaço aqui.

Hoje o convidado é o nosso ilustre leitor e antigo correspondente, André Motta! (André, desculpa, mas eu tinha me esquecido se teu sobrenome era com um T ou dois, rsrsrs). Abração galera, e curtam a colaboração!

Sayonara!


***


Ouroboros.
Um dos símbolos mais antigos da história da humanidade. Um círculo formado por uma serpente mordendo sua própria cauda, caso você não o conheça.
E um dos jeitos mais rápidos e práticos de explicar quem sou.
Não, eu não sou uma serpente e não, eu não estou mordendo meu rabo. Pro inferno com as piadas.
Faz tempo que deixei de achar graça.

Como todo adolescente, eu me achava anormal. E no pior sentido da palavra. Realmente nunca gostei de caminhar com a massa, de ver filmes que fazem sucesso porque fazem sucesso.
Isso faz sentido?

Bem, o caso é que eu sempre achei que tinha algo de diferente. Tinha de ter, não podia aceitar que eu fosse igual àqueles idiotas.
O meu bairro não era muito agitado, de forma que passei muito tempo sem presenciar acidentes, assaltos e outras formas de violência.
(Tirando, claro, os bullyings de sempre).

Mas acho que estou divagando demais e isso pode acabar te deixando sem vontade de continuar lendo.

Colocando em palavras simples e diretas, eu posso literalmente te tirar das garras da morte.

Nessas horas eu gostaria muito de ter nascido numa família diferente, que me matriculasse em um curso de desenho ou pintura.
Eu adoraria poder mostrar a você o que eu vi.

Antes de virar a esquina, eu já estava com uma sensação estranha. Você já deve ter sentido. Uma coisa estranha na altura do peito, que não deixa dúvida nenhuma que tem alguma coisa errada.
Quando eu a virei, parecia estar vendo um filme.
As paredes das casas e a rua ficando azuis e vermelhas, bem como os rostos das pessoas que, correndo de um lado pro outro ou se esticando paradas, tentavam conseguir um ângulo melhor para assistir o “espetáculo”.

Enquanto eu mesmo tentava conseguir um ângulo pra mim, pude ir montando o quebra-cabeças com os comentários avulsos que ia ouvindo.
“...Bêbado...”
“...Imprudente...”
“...Tem a idade da minha filha...”
“...Culpa da prefeitura...”

Quando finalmente consegui ver a cena (marcas de pneu na rua levando a um carro batido em uma cerca, passando por uma ilha formada por uma garota praticamente boiando em sangue), uma outra luz estava se juntando ás duas anteriores. Três, se você contar com a luz alaranjada do Sol poente.

Ela era um azul muito pálido, quase acizentado, e vinha como um cone de cima, praticamente um holofote das nuvens.
E antes que eu pudesse me dar conta que eu era o único vendo isso, lá estava, sobre garota, o Anjo da Morte.

É claro que eu ainda não sabia que era o Ceifador em pessoa; naquele momento, para mim, era só uma pessoa muito alta, vestindo um manto escuro, com um capuz que não me deixava ver seu rosto.
Além das asas angelicais negras e da foice, óbvio.

Acho que eu tenho que admitir que ainda não sabia, mas tive quase certeza.

Conforme eu olhava sem parar para dentro de seu capuz, ele virou pra mim. Sabe aqueles sonhos em que você fica em câmera lenta?
Então, só que no caso eram apenas as pessoas e todo o resto que estavam assim. Eu só estava paralisado de medo mesmo.
Quando olhei melhor, eu pude ver linhas brancas saindo das pessoas, de mim e da garota.
Essa última linha, inclusive, estava passando pela mão esquerda do Ceifador antes de continuar dando a volta pelo corpo da garota.

Eu não sei explicar como eu fiz, eu só quis fazer. Quando vi, a linha que o Anjo estava segurando não era mais a da garota, mas uma partindo do meu braço esquerdo.

Eu não acho que alguma vez ele foi enganado por mim, já que tanto nessa quanto nas outras vezes, ele olhou pra mim, como se esperasse confirmação, antes de cortar a linha com sua foice.

Enquanto essa terceira (ou quarta) luz desaparecia, as pessoas iam voltando a se mover normalmente e o volume do burburinho ia aumentando.

“...Graças a Deus...”
“...Milagre...”

A garota ainda estava no mesmo lugar, mas tinha aberto os olhos e respirava; com dificuldade, mas respirava.
Ela parecia procurar alguém na multidão.

Ainda não tinha pensado nisso. Será que ela viu tudo o que eu vi?

Eu não esperei pra perguntar. Eu corri pra casa, meio desequilibrado.
Levei certo tempo pra me acostumar a correr com um braço inerte.

Atualmente, eu já não escuto nada nem enxergo com o olho esquerdo.
Parece pouco, mas eu tentei selecionar muito quem salvar e até se era eu quem devia estar tomando essas decisões.

Quem merce viver? Quem vai usar de verdade uma segunda chance?
Será que quem precisa de uma segunda chance para dar sentido à sua vida merece-a?

Eu queria alguém para dividir minhas dúvidas. Pra me ajudar com as minhas decisões.
Pra estar do meu lado quando a única linha que me sobrar pra barganhar for a que prende minha alma ao meu corpo.

Mas eu já vi filmes assim, li livros assim. Eu sei o que acontece caso a pessoa errada fique sabendo.
Ou eu viro cobaia, ou uma arma.
E meu dom vai perder o sentido que eu imagino que tenha.

Por essas e outras que eu amo (ou amei) a tecnologia. Não preciso ser um gênio para ter um “Plano B”.

Caso você esteja lendo isto, alguma coisa deu errado. Escolhi mal.

Só peço que você não esqueça do que leu. Não tente me encontrar, não gaste a sua 'chance' nisso.
Lembre-se apenas que houve sim uma pessoa disposta a ajudar.
E dê sentido à sua vida.
Acho que não vou poder estar lá caso você precise de uma segunda chance.


Só pra constar, eu menti duas vezes.
Continue lendo só se quiser saber mesmo.

Eu sempre gostei daqueles filme idiotas.
E eu ainda morro de
rir quando ouço aquela piada.

2 comentários:

Sayu disse...

ouroboros! *o* ainda faço uma tatuagem da cobrinha... (quando eu tomar coragem, quem sabe)

André Motta disse...

São dois T's mesmo, amigão!
Valeu pelos elogios via sms!
E fala pra senhorita Sayu que eu leio estes dois blogs, ok?
(eu sou um Bardo, Humano, Neutral Good, level 4)
Só nao sou de comentar muito.

Abração e volta a postar regularmente, cara!

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